Azoth

Carpe Diem

Cérebro

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

*Lisboa minha cidade Natal


"Lisboa á beira-mar, cheia de vistas,
Ó Lisboa das meigas Procissões!
Ó Lisboa de Irmãs e de fadistas!
Ó Lisboa dos lyricos pregões...
Lisboa com o Tejo das Conquistas,
Mais os ossos provaveis de Camões!
Ó Lisboa de marmore, Lisboa!
Quem nunca te viu, não viu coisa boa...

II
És tu a mesma de que falla a Historia?
Eu quero ver-te, aonde é que estás, aonde?
Não sei quem és, perdi-te de memoria,
Dize-me, aonde é que o teu perfil se esconde?
Ó Lisboa das Naus, cheia de gloria,
Ó Lisboa das Chronicas, responde!
E carregadas vinham almadias
Com noz, pimenta e mais especiarias...

III
Ai canta, canta ao luar, minha guitarra,
A Lisboa dos Poetas Cavalleiros!
Galeras doidas por soltar a amarra,
Cidade de morenos marinheiros,
Com navios entrando e saindo a barra
De prôa para paizes extrangeiros!
Uns p'ra França, acenando Adeus! Adeus!
Outros p'r'as Indias, outros... sabe-o Deus!

IV
Ó Lisboa das ruas mysteriozas!
Da Triste Feia, de João de Deus,
Becco da India, Rua das Fermosas,
Becco do Falla-Só (os versos meus...)
E outra rua que eu sei de duas Rozas,
Becco do Imaginario, dos Judeus,
Travessa (julgo eu) das Izabeis,
E outras mais que eu ignoro e vós sabeis.

V
Meiga Lisboa, mystica cidade!
(Ao longe o sonho desse mar sem fim.)
Que pena faz morrer na mocidade!
Teus sinos, breve, dobrarão por mim.
Mandae meu corpo em grande velocidade,
Mandae meu corpo p'ra Lisboa, sim?
Quando eu morrer (porque isto pouco dura)
Meus Irmãos, dae-me alli a sepultura! "

Despedidas

António Nobre 1895-1899

1 comentário:

  1. Contente estou de achar, e não perder meus quinze minutinhos de ho9je a visitar seu blog, onde entre outros requintes pude visitar Lisboa pela pena de nada menos que António Nobre.
    Um abraço do Brasil

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